DETETIVE LITERÁRIO - VICENTE DE CARVALHO

Vicente de Carvalho - por Clara Sznifer


Vicente Augusto de Carvalho,
o "Poeta do Mar", nasceu em Santos (SP), em 05/05/1866, lá falecendo no dia 22/04/1924.

Poeta, contista, advogado, jornalista, político e magistrado.

"Sou um escritor genuinamente paulista. Cultivo as letras com assíduo e não recatado amor, sem fingir que delas me desinteresso como de cousa secundária. De todas as funções que tenho exercido, e fora bastante, e algumas altamente honrosas, nenhuma sobrepus ou sobreponho à de um homem de letras."



Os jardins da orla de Santos se devem em parte a Vicente de Carvalho. Em 1921 escreveu, junto a Américo Martins dos Santos e Benedito Montenegrego, uma Carta Aberta ao Presidente da República contra as apropriações ilegais das a´reas em frente à praia. 

  
 Em seus poemas, Vicente de Carvalho demonstra predileção pelo mar, talvez um resquício da infância. Pela obsessão que tinha de falar do mar, ganhou o apelido de "Poeta do Mar",. Vicente de Carvalho foi, na opinião de Massaud Moisés, "um romântico autêntico", que nem o formalismo parnasiano nem o transcendentalismo simbolista haviam conseguido mudar.

Quando menino, Vicente quase não teve amigos. para que, se havia o mar? Dava-se a ele. Sempre morou perto do mar. O mar brincava com ele, mandava-lhe brinquedos e aventuras, sonhos e surpresas no correr eterno das ondas. Durante toda a vida, mesmo quando longe de Santos, vicente ouviria mais no coração do que nos ouvidos, o ecoar saudoso de seu oceano, a sonoridade poética de suas ondas.


O seu romance com a oceânica amplidão ocupou-lhe os dias e as noites inteirinhos até por volta dos sete anos. Passou, então, a frequentar a classe de um mestre-escola, seu vizinho. A cartilha foi para ele, outro oceano, outra maravilha. O mar, porém, rouquejando bra-midos à porta da escola, continuava a chamá-lo. Terminada a aula, fechava o livro e corria para a orla do seu bem-amado oceano a ouvir as ondas e procurar baiúncas. Era um São Francisco infantil e seu "irmão mar".

Pelas suas inclinações, pelo seu modo de vida, pelo seu entusiasmo infantil ao encarar a vida, pela sua obsessiva procura do belo no panorama marinho ou na linha esquiva das montanhas que bordejam à distância a orla santista, Vicente viria mesmo a ser poeta.

Poetar seria o ponto convergente de todas as linhas de sua vida.
O convívio com o mar já era, em si, uma forma de poesia.

Em seus últimos dias fixou-se em Indaiá, onde tudo era poesia: céu, mar, montanha, areia clara da praia, a vegetação. Na praia desfrutava, aberto à sua frente, dia e noite, o velho e amado mar.

Disse Euclides da Cunha, prefaciando Poemas e Canções: "o poeta vai, cada vez mais, refletindo no ritmo de seus versos a vibração da vida universal, cada vez mais fortalecido por um longo sentimento de natureza".

PALAVRAS AO MAR
Trechos escolhidos

Mar, belo mar selvagem
das nosassas praias solitárais! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam
A que vento do largo eriça o pelo!
Junto da espuma com que as praias bordas,
Pelo marulho acalentada, à sombra
Das palmeiras que arfando se debruçam
Na beirada das ondas - a minha alma
Abriu-se para a vida comose abre
A flor da murta paa o sol do esetio.

Livro - Poemas e Canções
Vicente de Carvalho


Detetive Literário por Clara Sznifer

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