Haicai - Clara Sznifer

Na rua deserta
consolo para a solidão –
Viçoso ipê-roxo.


Sabiá-da-praia –
Voz canora me embala
e afasta tristeza

ANDANTE - Cris Dakinis (foto: Marcelo Luiz de Freitas)

Quando os anjos visitaram a nascente...
Nada era maçã, mas semente.
As tempestades inevitáveis
espelhavam vida
dividida em filhotes de lagoa
e refletiam o aroma lilás.
Quando o continente vestiu águas ao topo...
A rosa descoberta,
o príncipe distraído,
o carneiro livre e
a ruína desenhada – A Torre!

A solução é o amor - Leandro Martins de Jesus

As crianças gritam e choram
Do nascer ao pôr do sol
Sem saber na realidade
O por quê de tanta dor.

Seus pais, pouco instruídos
Levam vida desumana
Propagando de forma insana
Violência e desamor.

Não agem por querer...
A vida assim ensinou
Não sabem compreender
Que a solução é o Amor

Saudade da chuva - Marcelo Ignácio

Chuva fina
Madrugada fria 
Universo vazio 
Obrigado por chegar 
Adeus, saudade!!!

  • Marcelo Ignácio

A SAGA DAS FLORES - Raimundo Costa Lira Filho (foto: Marcelo Luiz de Freitas)

Quando uma flor nasce
Tudo fica belo
Tudo fica eterno
E tudo ganha vida

Quando uma flor nasce
Os pássaros cantam
As plantam encantam
Os que voltam da lida

Quando uma flor morre
O rio chora triste
E, triste, tão triste
Deságua no mar

prescrição - Vivian de Moraes (ilustração Cláudio Feldman)

Cláudio Feldman
tu te apavoras com teus olhos vítreos, efeito do rivotril?
tu te desesperas com tuas oscilações, tuas alucinações, tuas perversões?
toma algo melhor do que rivotril

A Máquina de Escrever - Anderson Braga Horta

Ei-la dormindo
a um canto
sonhos alfabéticos.
Jaz encapuçada,
talvez com vergonha
do amor não inscrito.
Humilde no ventre
da escrivaninha,
ciosa
de segredos terríveis,
guarda nas teclas dormentes
o poema total.

poema - Deise Domingues Giannini

Usando a criatividade e utilizando nomes de alguns estilos, rimas e figuras Deise Giannini brinca com o Trajes Poéticos

Mais fáceis que ditirambo,
são: triolé, gazal, centão.
O epicédio e o epitalâmio
longe de minha visão.
Pantum, glosa e anadiplose
eu faço de coração.

ÁRVORE DO MAL - Cris Dakinis

A amarga seiva não serve de nada
e a tua imensa sombra mal abriga
o falso berço, redes de intrigas
em tua trama seca e eriçada

Nenhuma flor em ti quer ser braçada,
tornaste dos canoros, inimiga,
e as sementes negam-te a barriga
pois tua cepa é de praga tomada

Menina - Nijair Araújo Pinto

montagem realizada pelo autor

TEMPO - Emanuel Medeiros Vieira

Em memória de Evandro Magalhães e de Stuart Angel


Dizei-me em tempo o que é o tempo, Senhor. 
Antes de cruzar a ponte, Ensinai-me:
Linha reta de eterna agonia?
Bússola na encruzilhada?
Sim, o sorriso de uma menina nascida na luz de agosto,
e de um menino junto à flor de maio.

E o vento?
O espaço?
O mar?

QUEM EU SOU - KELLY CRISTINA CARVALHO - (ilustração Ana Austin)

Série Decifra-me ou te Devoro - Ana Austin

Sou tudo aquilo que seus olhos não conseguem ver...
sou fúria no silêncio
sou calmaria no barulho
sou amor que pulsa
sou música que dança

Sou inquieta no meu desassossego
sou quieta na minha tristeza
sou cheia de sentimento 
sou cheia de saudade
sou recomeço diante da vida

GUANTÁNAMO - EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

Guantánamo não é um retrato na parede
Guantánamo fede
Guantánamo não acaba
E ninguém mais se lembra de Guantánamo
As pessoas foram torturadas, morrem esquecidas.
Os “outros” são sempre os perversos.
E Guantánamo sobrevive.
Sim, não é um retrato na parede.
A “América profunda” não quer que a prisão acabe.
As pessoas mofam e morrem sem julgamento ou processo.
Não, não falo em impunidade – falo em justiça
E justiça não é vingança.

UMA TROVA - Edweine Loureiro

A beleza de um amor
deve ser sempre mostrada:
por exemplo, com a flor
que se dá à namorada.

  • Edweine Loureiro

SAUDADE DA MINHA TERRA - Kelly Cristina Carvalho

 (Para querida avó Julia in memoria)

Lá depois da estrada de pedra,
passa uma légua e meia de distância,


depois da curva conhecida de esperança,
pega a estrada de terra e segue caminho

Lá depois da campina, 
passa por entre as plantações de milho
depois da fazenda de São José conhecida,
logo se avista a capela de São Marcos faz sinal da cruz e da Ave Maria,
pega a estrada logo ali e caminha...

TARDE EM PARATY - Edite Rocha Capelo (Epímone)

Serena tarde de agosto
Debaixo do céu azul, todo azul
quer engolir meus pés
Sento-me num barco da praia
Vejo vários tons de azuis, azuis,
Vindos do mar azul!
Cuidadosamente retiro
Meu novo tênis azul
Caminho nas areias grossas
sinto o aroma do mar!
Aprecio as ondas calmas
Ondulando nos seus azuis, azuis
E elas vêm se chegando
cada vez mais perto de mim!

O AMOR - Edite Rocha Capelo (Cólon)


Com o amor acharemos a luz
Com amor nossa paz vibrará
Com o amor reinará felicidade
Com o amor seremos um só
Com o amor arrancaremos o mal
Com o amor encontraremos a verdade

NOITE SEM FIM - Ludimar Gomes Molina (Epímone)

Na boca da noite sepultei meu sorriso.
Lágrimas salgaram minha boca.
Abri um vinho. Despertei a minha ira
entregando-me àquela boca de garrafa

Minha boca clamava por tua boca
que em outra boca tanto se extasiava
Minha vingança foi insana, mas precisa,
e o teu fim essa vingança decretava

Sem primavera, sem amores e sem vidas - Olímpio Coelho de Araújo (Cólon)


Sem as flores da primavera não haverá alegria,
Sem as flores da primavera as aves não nidificam.
Sem as flores da primavera outras plantas não germinam.
Sem as flores da primavera não se constrói fantasia.
Sem as flores da primavera o sol se aquece em vão,
Sem as flores da primavera não se tem o mesmo verão. 
Sem as flores da primavera marcha a humanidade
para o final dos seus dias.

FURACÃO - Edite Rocha Capelo

Tempo passou,nem me fala...
no  desenhar da mandala,
patinando em minúsculos,
lembrei da agitar os músculos!
 
Fui logo andar no areião,
parecia um furacão,
exercitando meu braço,
até sentir o cansaço!
 
Fiquei um pouco agitada,
mas também aliviada,
extravazei minha mente
para o mar olhei contente! 
 
 
Edite Rocha Capelo

Cama Vazia - Nijair Pinto


O Relógio - Aycrám


Tic-tac Tic-tac... Fazem os ponteiros do relógio de ponto!
Levanta seus pinos sentindo que não há mais tempo;
Procura desviar do assunto,
Embora ainda esteja atento, mas sonolento,

Perde-se e de fluido de bateria se besunta!
Escorrega e de tudo se afasta ou tenta,
Mas é aí que se pergunta:
- Pra que tanta tormenta

poema - de Juarez Florintino Dias Filho


Com deboche,
a tristeza aponta
para a parede cinzenta,
que agora oculta
o colorido horizonte
Sorri, mostrando
os dentes encardidos,
enquanto a lembrança
da alegria caminha,
cada vez mais distante
 
Juarez Florintino Dias Filho

VOAR - Kelly Cristina Carvalho

Algumas vezes quis voar,
nas asas dos meus sonhos
construí asas infinitas  

Algumas vezes quis voar,
nas asas dos meus horizontes
construí asas de ilusões

Carta poética - Nijair Pinto

Perdão, mas o amor que você tanto busca eu não posso dar.
Não sei se a vida me fez alheio a tudo que fala ao coração...
Pareço insensato e frio. Pareço tirano, eu sei.
O que talvez você não saiba, ou não perceba, é que apenas pareço.
Tento encontrar minhas verdades, mas não as encontro... Nunca.
Se a barreira que imponho, impedindo simples aproximação,
faz você chorar, depois de momentos tão nossos, geniais;
se após verter cada lágrima, você me tem por sarcástico e gélido...
Como acha que me sinto, não consegue imaginar? Tente!

SÓ O IMPOSSÍVEL de Cris Dakinis

Desejo a cor que não existe mais,
O p&b das fotos do passado...
Ler um rascunho que foi apagado,
Sinto saudades de tudo que jaz.

O que renasce, mas ninguém refaz.
Obra divina, a chave do sagrado...
O impossível de ser recriado,
E o sabor que não provei jamais

Momento Além do Paraíso - Cláudia Brino

para Cris Dakinis


Além dos portões, o paraíso parecia
uma aquarela, rara pintura em tecido de seda.

Paisagem à espera do perdão
para receber de volta aqueles
que conseguem usar uma linguagem articulada.

Além dos portões, caminharam de mãos dadas,
o filho e a filha da gênese.

Poema - Cida Micossi

Inutilmente espalhadas  
Pétalas de rosas
Gotas de suor
Lágrimas choradas
Pela Ausencia do Amor.

Na Busca das Palavras
Sem saber o Opaco DiZer
A Dessa Colheita lavra
A Há tempos se pos a perder
Pois Nunca O Amor brotava,
Localidade: Não conseguia Florescer

E do Choro nenhum leito
Contido não peito
Que Localidade: Não PODE extravasar
Só uma amarga Solidão
Aventurou-se a aflorar.

Cida Micossi 

MENINO - Emanuel Medeiros Vieira

                                         
                                                  PARA CIDA E ARNOLDO

 “E por amor de ti, em guerra o tempo enfrento.
 Quanto ele em ti suprime, é quanto te acrescento.”
 (Shakespeare)


 Aqui não estás (mas “sinto” a tua presença imanente).
 Não vi o primeiro dente, os cabelos aparecendo
 mas estás aqui, no lado esquerdo do peito
 teu sorriso inunda a casa
 sempre restará a memória,
 e parece tão pouco
 não esqueço do teu sorriso,
 da tua imensa ternura
 apenas um ser – e sempre um ser
 Colho uma pitanga no meio destes verdes – percebo que esse amor
 vai à eternidade, e no exato momento desta escrita, alguns
 pássaros estão cantando.
 Ou é muito tarde – sempre
 Amo-te menino – nada deterá esse amor.
 Nele não existe oblívio – estaremos juntos: para sempre.

(Brasília, fevereiro de 2014)

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

Poemas - icê dias

tristeza
a parte vazada do tecido de renda

palavra
de todo e qualquer jeito ela fala

solidão
estar sem mim

tráfico
casal dividindo o mesmo cigarro

mágoa
lágrima que não sai

rancor 
desabitada de ti

segredo
todo túmulo um dia será aberto

intimidade
você gostaria de morar em meu pensamento?


icê dias
livro renda fria

Crack - Vieira Vivo

o retorno 
à idade 
da pedra

 Vieira Vivo

BARCO - EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

“Tenho me convivido muito ultimamente e descobri com surpresa que sou suportável, às vezes até agradável de ser. Bem. Nem sempre”.
                            (Clarice Lispector)

“Nesta foto do tempo de criança/o que mais me encanta/não é nossa alegria de infantes/mas a réstia de luz de uma manhã/brilhando no chão de uma varanda// Ninguém apaga este sol que nos chega da infância”.
                         (Miguel Sanches Neto)

Meu barco me levará até o teu sonho.
Mapeio territórios, procuro bússolas, cartas de navegação.
Velas ao vento– singrando os Sete- Mares.
(Não quero ser o navegador do Apocalipse.)
O barco segue comigo – como o mar.
A vela só vale acesa.
E neste barco, penso em regatas e domingos azuis.
Voltarei a colher flores nas manhãs orvalhadas?
Vai, meu barco – esta jornada.     
(Cantil cheio, pão de centeio.)
Segue, meu barco!
Segue.

Os veros viajantes estão no exílio?
Não quero só pranto – mas a redenção.
Navega com o meu barco – coração –, navega.

Alvíssaras!

  EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

bajo almohada - Reynaldo Armesto Oliva

la vida pasa
y a un costado
bajo la almuhada,
deja al tiempo
su equipaje
cual sombra estéril
que no vuelve
a escapar de mis manos,
al naufragar desde a dentro
irremediable consigo
con sus pies descalzos
y la mirada desnuda
en el doblez de mis párpados.

Reynaldo Armesto Oliva

Cuba

si supiéramos - reynaldo armesto oliva...

si supiéramos

cuentan los dias
lo poco o lo mucho
que desordenado
nos persigue,
el polvo que retrocede
entristecido por la lluvia
el camino
que nos entrecruza nuevamente.

si supiéramos
a dónde llegar,
dejar la timidez
de nuestro cuerpo
desnuda
en lo claroscuro de la cama,
cada latido que nos une
fuera algo más
que un porqué
y dos también
diferentes

reynaldo armesto oliva (Cuba)

ELIPSE - Cris Dakinis

Segue qual folha seca pelo vento
Sem rumo ou meta, pensa no agora
Galga desníveis pelo mundo afora
Vive ilusão e arroubos do momento

Drummond versou José no sofrimento
E o tolo? Esse finge que lhe aflora
Um fardo nobre, o lúgubre lamento
E a fantasia de quem também chora

Mas a verdade é que o mundo real
Não presenteia o tolo em pantomima
E descortina a farsa teatral...

Desentendendo o que o mundo ensina
O seu trajeto faz-se todo igual
E a sua roda gira a mesma sina...

Cris Dakinis

A VIDA - Edite Capelo

Ai a vida
Tenho que viver, na lida!
Qual será o seu sentido?
Tenho que ficar retido
Neste mundo refletido!
Espelho da despedida!
Ai a vida
Tenho que viver na lida!
Mesmo na luta constante
Sou dela, grande amante
Ela, joia rara, um diamante!
É dura, mas muito querida!
Ai a vida
Tenho que viver na lida!

Edite Capelo

Efímero - Reynaldo Armesto Oliva

Habite la tierra
Como la llovizna
Que muy temprano
Humedeció nuestros labios,
Espere tranquilo
Vi creer lo pasajero
Y el andar de tus pupilas,
Entonces comprendí
Que los sueños se diluyen
En cada pliegue del tiempo,
En cada mitad que se desgarra y nos impulsa

A una vana existencia

Reynaldo Armesto Oliva 

kamikases - Cláudia Brino

deixou vir uma,
depois outras

e foram tantas lágrimas
que marcaram a face

que até a alma
ficou maltratada.

Cláudia Brino
(do livro chorando reticências)

Caminhos - Juarez Florintino Dias Filho


Bonito!
Bonito é quando
mãos e bocas se procuram
nos caminhos determinados
pela paixão
Lindo!
Lindo é quando
os olhos se encontram
no caminho escolhido
pelo coração
Juarez Florintino Dias Filho

Barquinho - Vieira Vivo

céu
mar
sol
lua
sal
pequeno barco que nas tormentas te bates
singela morada de pescaria modesta
firma-te mais onde te debates
e acolhe cardumes em festa

Vieira Vivo

micrologias - icê dias

do livro jardim de papel

antúrio
pipa ao vento

violeta
bordado na virgindade da manhã

o hibisco
sente o meu belisco

copo de leite
café da manhã de um jardim

o cravo
conhece a melodia do piano

lírio da paz
pomba da mata

continua...

mato
capim ou assassinato

me atrevo
e o eco responde: trevo

com receio, em vez da mão,
pedi o dedinho-de-moça

não resisti:
engaiolei meu hibisco colibri

icê dias
do livro jardim de papel

ADEUS, GRÉCIA - Emanuel Medeiros Vieira

Não bastaram fibra e amor,
cai, Grécia,
universo solar
adequação entre ser e destino,
envelhecemos
– morte na soleira da porta,
fragmentos de sonhos
– só fragmentos –
não a totalidade,
adeus, Grécia,
adeus,
despedidas
– só despedidas.

Ulisses: somos apenas seres virtuais,
Homero envolto em brumas,
homens sem fibra carregando engenhocas eletrônicas,
caindo como folhas ao vento
(prenhes de cobiça – soberbos -, e miseravelmente rotos),
Não, não eram eternos,
onipotência só de papel,
deuses de barro,
TV.


O Espírito sopra onde quer?
Adeus, Grécia,
adeus, pátria dos homens,
adeus, pássaro da juventude,
inunda-nos o lamento de homens afundados –
uma doída lembrança.

De que barro somos feitos?
Não, não só de vileza,
também busca,
mesmo acampados em sucursais do inferno,
caminhando em sombras:
sonho da eternidade pela arte.

Para todos – fúteis, deslumbrados, sábios –
haverá sim  – como haverá!,
o momento da Revelação –
e será tarde,
muito tarde.

Adeus, Grécia,
adeus,
desfeitos, como pó, varridas cinzas,
irrelevantes ou  – para alguns –
nobres nessa finitude.

Sonâmbulos, clones dos nossos sonhos,
escritores de narrativas epigonais.

Não naveguei nos melhores mares:
preciso navegar – sempre –

infinitamente humano.

Emanuel Medeiros Vieira

Haicai - Clara Sznifer

Garoto assustado-
Do meio da plantação
Pula o gafanhoto.

Clara Sznifer

PEDRAS - Edweine Loureiro


Edweine Loureiro

SENTIMENTOS... - Kedma O'liver

Na madrugada, encolhido,
tremendo de frio, a dormir
nada sabe sobre o amanhã,
se haverá um porvir
Alimentos, sempre os restos,
quase sempre azedo ou frio,
olhares de medo ou desprezo
e nunca um gesto de carinho.
Oportunidades passaram,
reconhece que errou,
mas isso já não importa,
pois a sorte o abandonou.
Família não lembra onde está,
nem o nome lembra mais
às vezes, em pequenos flashes,
vê rostos...irmãos ou pais?
Meu Deus, que desespero
o próprio nome não lembrar.
Endereço será que algum dia tive?
e a família, onde andará?
Sei que lembro sempre
o  local onde encontro
Mais uma dose da morte...
é bem ali, naquele ponto.
Pessoas com sorrisos falsos
entregam-me e depois cobram
com gotas de minhas memórias
Orgulho e dignidades esgotam.
Deus, onde estão as pessoas
que falam de Teu amor?
Será que elas poderiam
afastar de mim essa dor?
Também sou ser humano
que cansado de ser humilhado,
em momentos de lucidez,
eu quero mudar de lado.
Quero ser gente de bem
basta um olhar e proteção
ajuda-me, Pai misericordioso,
dê-me nova direção.
Não penso em mais nada;
viver, morrer, tanto faz,
apenas estou cansado
Dê-me um pouco de paz.
Mostre-me para as pessoas
pois me tornei invisível,
passam e nem me olham
acham-me desprezível.
Deus, isso dói na alma,
quando mudam de calçada
com nojo, com desprezo,
como se eu não fosse nada.
Sou reflexo de meus atos.
Colho o que plantei?
Faz-me voltar no tempo
pelas estradas onde andei.
Quem sabe eu reencontre
minha vida, minha dignidade.
Deus, por favor, ajude-me...
tenha de mim piedade


  • Kedma O'liver


ELSE DE OLIVEIRA - TERESINKA PEREIRA

     Em prol da vida
     Olhos silenciosos
     Deslumbrados
     Contemplam!
            Else de Oliveira

**
Else, que estejas no ceu
onde estao todos os poetas
que sem medos gritaram
sua dor de viver!
Em teus versos vivias
a natureza na transparencia
da criacao.
Vamos sentir um profundo
vazio
de saudade dessa coragem
invencivel
que nos ensinaste.
Sempre.

TERESINKA PEREIRA

Esperando a primavera - Marcelo Ignácio

A rapidez do tempo
Voraz tempo
Para os santistas
O inverno é glacial
Que preguiça
De
Ir
Na praia
Ainda bem
Que logo
será
Primavera
Esperando á primavera
Fazendo
Tudo 
Brincadeira

Marcelo Ignácio

A desigualdade e o desamor - Clara Sznifer

Duas crianças, dois mundos
No Quênia, dor e esperança
Poucos brinquedos, muito sonho,
Fé no homem e na mudança
Para um despertar mais risonho!

Na Suécia, bastante regalia!
Reina desanimo, tédio e apatia.
Nos lares, tensão e conflitos
Nas escolas, disputa e desarmonia!

Como recuperar a nave do amor
Em busca de um porto salvador,
Numa terra coroada de beleza,
Onde reine a arte e a pureza?

Clara Sznifer

LEON - EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

             FRAGMENTOS – APENAS FRAGMENTOS
                    
“A vida é bela. Que as gerações futuras a limpem de todo o mal.”
                                     (Leon Trotsky)

Quando morremos, somos apenas a memória do que deixamos nos outros.
Um menino é sempre um menino. E pode ser mais que um menino: além do sonho, além da vida.
Não somos e nunca seremos donos do nosso porvir.
Somos donos de nossas vidas?
(Eu sei: nesta mera prosa poética, queria meditar sobre a desertificação da fé.)

“me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas onde  jazem aqueles que o poder não corrompeu.” (...)
(Paulo Leminski, “para a liberdade e luta”, in “polonaises”*
*Preservados os diminutivos utilizados pelo autor.)